O navio estava ancorado ao largo. Pai e filho esperavam na beira da praia. Desceu um escaler do navio e dirigiu-se à dupla. Depois dos cumprimentos, rumaram, agora com pai e filho, em direção ao navio. Para um garoto de 10 anos, conhecer aquele vapor foi uma grande emoção. Algum tempo depois, o menino foi até a amurada do navio e viu seu pai e o capitão dirigindo-se de volta à praia. O menino era um mulatinho, filho de um branco com uma escrava. Da amurada ele gritou: "Papai, o senhor me vendeu?" Ficou horas de cócoras chorando. O pai o vendera a troco das dívidas do jogo de cartas.
Anos depois ele acabou indo morar numa fazenda do interior paulista. O filho de seu senhor, jovem também, apegou-se àquele escravo. Ensinou-o a ler. Era o que lhe faltava. Lia tudo que lhe caía nas mãos. Comprou sua liberdade. Frequentou a faculdade de direito em São Paulo como ouvinte. Tornou-se um rábula - ajudante de advogado. Tornou-se grande abolicionista. Foi um dos inspiradores da Lei do Ventre Livre. Com sua morte em 1882, viu-se o féretro mais concorrido até então na província de São Paulo. Que grande exemplo o de Luiz Gonzaga Pinto da Gama.

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