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quinta-feira, 26 de abril de 2012

MUDANÇA RADICAL


O navio estava ancorado ao largo. Pai e filho esperavam na beira da praia. Desceu um escaler do navio e dirigiu-se à dupla. Depois dos cumprimentos, rumaram, agora com pai e filho, em direção ao navio. Para um garoto de 10 anos, conhecer aquele vapor foi uma grande emoção. Algum tempo depois, o menino foi até a amurada do navio e viu seu pai e o capitão dirigindo-se de volta à praia. O menino era um mulatinho, filho de um branco com uma escrava. Da amurada ele gritou: "Papai, o senhor me vendeu?" Ficou horas de cócoras chorando. O pai o vendera a troco das dívidas do jogo de cartas.

   Anos depois ele acabou indo morar numa fazenda do interior paulista. O filho de seu senhor, jovem também, apegou-se àquele escravo. Ensinou-o a ler. Era o que lhe faltava. Lia tudo que lhe caía nas mãos. Comprou sua liberdade. Frequentou a faculdade de direito em São Paulo como ouvinte. Tornou-se um rábula - ajudante de advogado. Tornou-se grande abolicionista. Foi um dos inspiradores da Lei do Ventre Livre. Com sua morte em 1882, viu-se o féretro mais concorrido até então na província de São Paulo. Que grande exemplo o de Luiz Gonzaga Pinto da Gama.
   Fico imaginando se Luiz Gama tivesse conhecido o Evangelho e descobrisse que Deus não vendeu seu filho, mas o deu por amor a nós. Ele experimentaria o mesmo que o irmão de Jesus, Tiago, o autor do texto bíblico de hoje. Criado num lar em que vivia debaixo do mesmo teto com aquele que, após a ressurreição, descobriu ser o Filho de Deus, devia pensar: Que honra papai e mamãe serem escolhidos para hospedarem o próprio Deus! Ao contrário de Luiz Gama, que foi vendido para pagar dívidas do pai, Deus deu seu Filho para pagar as dívidas dos miseráveis pecadores que éramos. Por isso, Tiago pôde passar-nos essas palavras de ânimo e alegria em meio a todas as nossas aflições.

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